As coisas são como são, na verdade, elas são o que a gente vê e faz delas.
Há dois anos, em alguma data qualquer, gostaria de dizer que me lembro se chovia, se fazia sol ou se o mundo acabava, mas não lembro. Lembro que era um domingo, e só lembro porque uma semana depois, a vida do mundo mudou completamente.
Mas voltando ao assunto, em algum domingo há dois anos, terminamos. Eu chorei, você chorou e foi embora, para nunca mais me procurar. Todas as promessas que havíamos feito, todas as conversas que tivemos, os anos de amizade e cumplicidade que desfrutamos juntos, nada, nada foi suficiente para você ficar. E nem mesmo para se preocupar se alguma coisa me acontecia ou não.
Seu pai ficou seriamente doente, e você não me procurou, eu fiz aniversário, você não mandou um misero parabéns. Eu entendi, tudo o que vivemos, tudo o que sentiu por mim foi colocado naquele cantinho do nunca existiu. Nunca aconteceu. Entendi. Embora os astros, sensitivos e meio mundo diziam pra mim, que você apareceria, eu sabia, no fundo eu sabia, eu sentia que não.
Só não imaginava que era porque, você já estava com outra pessoa, já estava refazendo sua vida, enquanto eu me refazia. Fez sentido quando sem querer eu fiquei sabendo, que você estava com outra, fazia pouquíssimo tempo que havíamos terminado. E você já estava envolvido com outra. Dois anos que terminamos, dois anos que você está com outra. Eu sou ruim de matemática, e não vou tentar fazer essa conta. Até porque, isso já não importa mais.
Nesses dois anos, enquanto você se apaixonava por ela. Eu me apaixonava por mim. Eu me apaixonava por tudo que eu era, e por tudo que eu queria ser. Por tudo que você teve e não soube valorizar. Hoje digo com certeza, não fui eu quem perdeu. Ao ver os últimos eventos. Vejo que você continua exatamente no mesmo lugar onde ficamos há dois anos. Não consegui ver nenhuma mudança relevante que me dissesse, uau, ele está melhor sem mim. Na verdade, você simplesmente me substituiu. Talvez você já soubesse que eu era muito para você. quem sabe. Mas obrigada por ter me dado essa chance, de mostrar pra mim mesma que eu era simplesmente incrível, que merecia muito mais. Que eu podia cumprir todas as promessas os sonhos que eu tinha, sem esperar por você.
Então, obrigada.
Depois de dois anos, a vida nos fez cruzar, como sempre, nas situações mais inusitadas e mais absurdas que poderia criar. Você com sua família toda e amigos de toda a vida, e eu, praticamente sozinha, se considerar que meus únicos amigos de verdade ali, eram a noiva, a qual eu deveria ser pela ocasião, o apoio, portanto, estava sozinha.
Pois é, em outra cidade, em um evento praticamente aleatório com a função de madrinha em mãos e o nervosismos de encontrar você, sua namorada, e toda sua família e estando sozinha.
Medo, frio na barriga, misto de ansiedade, socorro quero morrer. Cabeça com mil e uma cenas, desde vai dar tudo errado, vou tropeçar, cair na piscina, minha maquiagem e cabelo vão ficar horríveis, ela é muito melhor que eu, ele está melhor sem mim, eu engordei? to muito magra? estou bonita? MEU DEUS! que que eu to fazendo aqui? Todo mundo vai me ignorar e vou chorar, ninguém vai me tratar bem, vai haver uma invasão alienígena e vamos todos morrer, essa obviamente sendo a melhor das alternativas na minha cabeça, criativa e ansiosa.
Independente da minha criatividade ilimitada, já era tarde demais pra mudar de ideia e falar: não vou. Então, lá fui eu, com todos os medos, incertezas, coragem para desbravar o mundo e com uma expectativa silenciosa de no fundo quero te ver, quero saber como você está, será que sente minha falta? Afinal, ficamos juntos tanto tempo, quero saber que você está bem, o que cresceu e conquistou nesse tempo. Queria conversar horas com você como fazíamos antes. Não porque eu ainda ame você, não amo, pelo menos não como o amor entre duas almas apaixonadas deveria ser. Mas tenho um carinho por você, um carinho que eu sei que nunca vou perder. Porque afinal, o que vivemos foi importante pra mim e de certa forma, isso é amor e sempre vai ser.
Esses dois dias de evento, me fizeram sentir literalmente de tudo. Desde um vazio no peito e uma vontade louca de chorar, algo que não fazia desde que terminamos e uma vontade de gritar aos quatro ventos como me sinto livre, bem e feliz, algo que também não sentia durante nosso final de namoro.
Foram tantas emoções misturadas que nem sei ainda se processei tudo o que tinha que processar. E talvez por isso, esteja escrevendo essas palavras. Nesses dois dias me pegava lembrando de momentos juntos, de promessas cumpridas e de promessas que nunca acontecerão. Me atrapalhei em entender qual deveria ser meu lugar, afinal, sempre havia sido um, e hoje, é outro. Aprendi a finalmente agir de acordo com meu bem-estar e tentando ao máximo proteger o seu, me segurando inclusive algumas vezes para não passar dos limites, que ninguém nunca delimitou, mas que sem duvida existiam.
De tudo que esperava ou imaginei, pouco aconteceu, bom, considerando que estou aqui escrevendo, pelo menos não fomos mortos por alienígenas. Na verdade, aconteceu bem o contrário, não esperava que me recebessem bem, não esperava que me incluíssem nas coisas, e percebi que estando com você ou não, eu conquistei um lugar meu, em todo mundo que te rodeia. Isso deve ser difícil pra você. Até mesmo seu pai, que nunca demonstrou algum afeto por mim, me fez sentir acolhida e se não fiquei louca, pude sentir até como se ele estivesse realmente com saudades de mim. Perceber que metade das pessoas presentes que conviveram com a gente, não tinham ideia de que não estávamos juntos e quão confusas elas estavam, foi de certa maneira, reconfortante. Não porque eu queira algo com você, mas simplesmente, porque me fez sentir que eu fazia alguma diferença a ponto de ser reconhecida e vamos até dizer, aceita em um mundo que não era o meu.
Fiquei triste, também porque sentia como se minha presença ofuscasse a sua em um lugar, que é seu por direito. Mas quanto a isso, não posso fazer nada, porque afinal, não tem a ver com a minha luz, e sim com a sua escuridão. Percebi já há bastante tempo o quanto eu me diminuía para caber no seu mundo, para caber na sua vida, que tinha tanto potencial e que era para mim, tão pouco aproveitada. Hoje, acho que nem se eu quisesse, eu conseguiria caber novamente nesse espacinho que eu há 2 anos eu achava que significava tanto e que não poderia viver sem.
Fiquei triste também, pois a última pessoa que eu esperava que fosse me tratar como desconhecida, fosse você. achei que poderíamos pelo menos ser amigos, ou conhecidos, que houvesse uma forma de não ficar tão esquisito esse momento, que pudéssemos conviver como pessoas normais. Mas percebi, chateada, que seria algo impossível. Que tudo aquilo que vivemos, você jogou fora ou enterrou em algum lugar, onde não existe a menor possibilidade de se aproximar, e assim, tudo o que fomos um para o outro durante 5 anos, em 2, nos fez completos estranhos.
Não acreditei que você nem ao menos parou para saber realmente como eu estava, não teve um mínimo de carinho para demonstrar pela pessoa que você dizia amar com tanta intensidade. Se afastava de onde eu estava como se eu tivesse alguma doença rara e transmissível. Me pegou de surpresa e mesmo não te amando mais, isso doeu.
Acho que é verdade o que dizem, você só conhece uma pessoa pela forma como ela vai embora, e não como ela chega. E talvez então, eu não te conhecesse como achava que conhecia. Só posso te dizer, sinto muito.
Sinto muito que você não tenha sido homem o bastante para estar comigo da forma que eu merecia. Sinto muito que meu amor não tenha sido o bastante para estarmos juntos ainda. Sinto muito que você ainda não seja homem o bastante para me tratar da forma que eu precisava. Sinto muito que eu ainda vá fazer parte da sua vida em algumas ocasiões e que ainda teremos que nos encontrar algumas vezes. Sinto muito que todas as pessoas tenham me tratado com carinho e amizade quando talvez isso tenha te magoado. Sinto muito se te magoei, em algum momento do nosso relacionamento. Sinto muito por estar presente de corpo e alma em um evento que se não fosse por você, eu jamais estaria. Sinto muito que não me casei com um cara de 40 anos, logo que terminamos. Eu sei que você tinha certeza que isso aconteceria.
Sou grata a você por ter feito parte da minha vida, por ter me ensinado sobre carinho, paciência e amor enquanto estivemos juntos. Sou grata a você por ter saído da minha vida também, por isso ter me ensinado sobre meu próprio valor, sobre minha força e sobre me aceitar, por não precisar mais me moldar para caber em um espaço que claramente não era para ser meu.
Agradeço, de verdade todas as lições, mesmo as que eu só consegui compreender depois.
Eu te perdoo, por não ter sido capaz de me amar da forma que eu merecia ser amada. Espero que me perdoe por ter exigido de você mais do que você podia me dar. Espero realmente que você seja feliz, que as promessas que fizemos um para o outro, possam ser cumpridas com outros amigos, outros amores, nessa ou em outras vidas.
50 anos depois, e fora de ordem mesmo. porque sim.