Posso voltar a ter 23 anos?! Sério, essa ideia de ter 24 acabou comigo! Bateu aquele peso de “tenho que”, aquela obrigação de fazer algo, ser algo, de realizar, de transformar, mas acho que o universo em suas conspirações malucas, esqueceu de um pequeno detalhe, o “o que”, sério, fica difícil ser algo, querer fazer algo, sendo que não me veem nada do que quero fazer, é frustrante, me sinto agonizada e não por outros, se não por mim mesma. Então, mundo, será que podemos voltar aos meus 23 anos por favor?!
Ouço muita gente dizendo, quero crescer logo, trabalhar, ganhar meu dinheiro, fazer minhas coisas, não ter que dar satisfação, mas sinceramente, minha vontade é gritar, dane-se tudo! Quero aproveitar mais, relaxar mais, viver mais, e depois me preocupar com dinheiro, aluguel, trabalho, marido e o diabo a quatro! Falando sério, as pessoas vivem muito hoje, então porque eu tenho que sair correndo atrás do emprego dos sonhos que pague as contas, como se fosse o último dia de minha vida.
Hoje não vejo crianças falando quando crescer quero ser… astronalta, quero ser mágico, vejo crianças tendo cursos de 3023922 idiomas diferentes para terem uma vantagem no mercado de trabalho quando forem procurar emprego daqui à uns 10 anos! Vejo crianças preocupadas em arranjar um marido, ao invés de sonhar com o príncipe encantado, vejo crianças mais ocupadas aprendendo quais as marcas de roupas caras que os pais usam do que em se sujar ao subir numa árvore, vejo crianças passando o tempo no celular ao invés de aproveitar os amigos que a cada dia são mais escassos.
Quando vejo isso, e penso, que o que eu queria agora era simplesmente voltar a minha fazenda só para subir nas laranjeiras, roubar umas frutas do pé e sonhar com a princesa que seria se vivesse em um mundo diferente, ou em como seria minha vida dali a 30 anos, me desespero. Essas crianças já sabem hoje o que eu e muitos outros da minha geração não fazem ideia do que fazer.
Mas ao chegarem aos 18 anos, parecem muito mais infelizes e “loucos” para aproveitar do que eu quando tinha essa idade, porque parece que tem que fazer em 1 ou 2 anos, o que eu fiz até os 24! Vendo por esse lado, não é para menos que ninguém quer absolutamente nada com nada. Eu mesma acho que 24 anos é pouco tempo para aproveitar, imagina a pessoa que tem que fazer 20 anos em 2! É impossível, depois a pessoa vira infeliz pro resto da vida, sofrendo pelos anos que perdeu, mas é bem sucedida no trabalho, parabéns.
Nunca fui aluna exemplar, nunca fui também louca de hospício, sempre fui centrada quando achava importante e doidinha quando achava interessante, me considero equilibrada, mas tive uma vida inteira para aprender o equilíbrio entre a hora de brincar e a hora de falar sério. A culpa dessa loucura para mim é dos pais, a criança tem que brincar, tem que viver, tem que aprender por si mesma o que é importante pra ela, e quais valores deve seguir para que quando chegue na idade – e isso pode e vai variar muito – em que tiver que decidir o que fazer, saiba escolher a hora para falar sério e a hora para se divertir.
Eu digo que precisamos reensinar as pessoas a viverem, pois ninguém mais sabe viver. Todos estão bitolados com medo do que pode acontecer no final do mês que esquecem de aproveitar o sol que brilha lá fora, deixar um dia para aproveitar um parque, sair uma noite e esquecer que existe um trabalho para ir no dia seguinte, aproveitar sem preocupações com o amanhã, porque ele vai estar ali no dia seguinte e em todos os outros dias.
As pessoas esquecem que a vida é um equilíbrio entre trabalho e diversão, e que sinceramente, diversão deveria ter peso 2! Porque da vida, não é o dinheiro que você leva, mas as histórias que tem para contar, os amigos que deixou para trás, até mesmo as brigas que teve no caminho, porque tudo isso torna uma vida especial, a torna perfeita mesmo em suas falhas.
Então se der, mundo, me deixe voltar aos 23, porque aos 23 eu tinha certeza de que tudo se resolveria no tempo certo, e aos 24 eu sinto todo o seu peso em minhas costas, me pressionando para deixar de viver o meu equilíbrio, para me tornar uma escrava da sociedade.